João Antônio de Moraes, diretor de Relações Internacionais da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e do Sindipetro SP esteve no Barão de Itararé, na quarta-feira (4), para entrevista coletiva. O assunto em pauta foi as reivindicações dos petroleiros na greve instaurada desde o dia 1º de novembro.
Moraes afirma que, há 4 meses os trabalhadores tentam se reunir com o governo para discutir as propostas de aumento salarial e os planos de investimento da empresa, sem sucesso. “O governo faz ouvidos moucos para os trabalhadores. Organizamos uma reunião entre todos os sindicatos de petroleiros – que reúnem representantes dos trabalhadores dos escritórios, dos terminais e plataformas – com a diretoria da Petrobras. Só quem não compareceu foram os diretores da empresa. A única solução foi a greve”. A diretoria da estatal prometeu se reunir com os tabalhadores nesta segunda-feira (9).
A proposta inicial da empresa foi um aumento salarial de 5,73% em setembro, prontamente rejeitada pelos trabalhadores. No fim de outubro, a proposta subiu para 8,11%, mais aumento de quase R$ 80 no vale-refeição, mais uma vez rejeitada. Moraes afirma que, apesar das reivindicações salariais serem um dos aspectos da greve, ela vai muito além da luta por conquistas trabalhistas. A FUP reivindica participação efetiva na decisão dos rumos da empresa, que passa por um processo lento e doloroso de desmonte depois de iniciadas as investigações da operação Lava Jato.
A intenção da diretoria de cortar mais de R$ 500 bilhões em investimentos estratégicos da estatal e a perda de R$ 200 bilhões com a privatização de subsidiárias e de unidades são os pontos mais criticados pelos trabalhadores. Moraes alerta que, parte do grande público acabou aderindo ao discurso de liquidação da Petrobras devido às cifras bilionárias envolvidas nos desvios investigados pela Lava Jato, mas alerta para os danos que uma privatização gradual da empresa e a falta de investimentos tendem a trazer para a economia nacional. “Comparando com as cifras que a indústria do petróleo movimenta, a Lava Jato é fichinha”, aponta o diretor.
A aprovação do projeto de lei do senador José Serra (PSDB-SP) é um dos grandes riscos que a Petrobras encara no âmbito político. Parado no Senado, o projeto colocaria fim ao monopólio estatal na exploração de novos poços de petróleo descobertos no pré-sal e limita a participação da empresa na exploração e produção dos recursos em cada uma das reservas. O projeto é arquitetado para dar a empresas estrangeiras a possibilidade de lucrar enormemente com as reservas nacionais e tirar a Petrobras do páreo ou dar a ela um papel de subordinação com uma privatização mascarada que tiraria a soma de R$ 360 bilhões do Orçamento nacional só na pasta de Educação.
PL 131 DE 2015, DE AUTORIA DE JOSÉ SERRA
PROJETO DE JOSÉ SERRA PODE TIRAR R$360 BILHÕES DA EDUCAÇÃO
A Petrobras como braço forte da soberania nacional
A indústria do petróleo e do gás tem uma importância fundamental na soberania das nações com reservas. O diretor da FUP lembra que nenhuma nação que recorreu ao processo de privatização do seu setor de petróleo e gás foi beneficiada. “Hoje, o pré-sal já corresponde a 50% do que o Brasil consome de petróleo. Antes de 2003, o petróleo representava apenas 3% da riqueza nacional, hoje esse número é de 13%. A Petrobras é responsável por 40% de todo o investimento feito na indústria nacional”, alerta Moraes, lembrando ainda que as expectativas de fechamento de postos de trabalho no Brasil com a gradativa privatização da empresa é de 20 milhões até 2020 em variados setores da economia nacional.
Além de enxugar os postos de trabalho no país, as multinacionais estrangeiras não trazem benefícios sociais e não se preocupam como deveriam com o meio ambiente, segundo Moraes, que cita como exemplo o caso do Golfo do México em 2010 e o maior acidente ambiental da história causado pela exploração descuidada e desastrosa da British Petroleum.
Como exemplo do golpe na soberania nacional que o país pode sofrer, Moraes cita o caso do Iraque para ilustrar os rumos das políticas econômicas com uma possível interferência estrangeira na exploração e produção do petróleo. O barril custava 7 dólares ao mercado interno no país do Oriente Médio antes da invasão americana. Logo depois da ocupação, o preço do petróleo para os iraquianos pulou para 27 dólares o barril, de acordo com o diretor.
A tríade privatista
Além das forças conservadoras na política nacional, o governo Dilma resolveu colocar dentro do Conselho da Petrobras alguns amigos do sistema financeiro internacional. “Hoje, só temos diálogo no Conselho da Petrobras com o Deyvid (Bacelar – representante dos trabalhadores no Conselho). Ele é a pessoa que mais entende de petróleo lá, porque o resto está atrelado ao sistema financeiro”, lamenta Moraes. Bacelar é um dos petroleiros presos em Salvador. Ele foi detido sob alegação de desacato à autoridade durante as greves.
A tentativa de desmonte da Petrobras tem seus principais pilares no sistema financeiro, na política conservadora e na imprensa. “O maior cerco aos petroleiros é o da grande mídia”, revela Moraes. A mídia tem feito o papel de esconder os reais motivos da greve e usar a movimentação dos trabalhadores de forma gradual para minar a moral do governo Dilma e da Petrobras, com o anúncio de queda na produção, sem mencionar a dificuldade dos trabalhadores em realizar um diálogo com a diretoria da estatal para retomar a rotina de trabalho.
Moraes classifica como “muito suspeito” o comportamento da imprensa ao defender ações que deram errado no mundo todo e que ainda encontram respaldo nos analistas econômicos da mídia tradicional. “Eles diziam, nos anos 90, que era preciso quebrar o monopólio para poder montar refinarias, onde estava a maior carência da Petrobras. Porém, de 95 a 2002, nenhuma refinaria foi construída mesmo com a venda de diversos campos de exploração”, aponta Moraes. “A partir de 2003, cinco refinarias foram construídas com a retomada de um projeto de hegemonia nacional fundamentado no petróleo”, completa.