Por Raphael Coraccini
Em palestra no Barão de Itararé, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo contrapôs a situação de China e Estados Unidos, ao comparar a degradação dos empregos na economia americana e o boom industrial chinês. O economista foi uma das atrações do “Ciclo de debates: Que Brasil é este?”, realizado no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, na segunda-feira (9), que contou também com o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães e com o professor da UFB Renildo de Souza.
Segundo Belluzzo, mesmo com a desaceleração do seu PIB, a China passa por um processo de superação dos Estados Unidos, que tende a se confirmar no longo prazo. O economista lembra que, o processo de substituição da libra inglesa pelo dólar começou nas últimas décadas do século 19 e foi concretizado cerca de 60 anos depois. A China estaria em um caminho semelhante, galopando em direção ao primeiro lugar entre as maiores economias do planeta. O embaixador Samuel Pinheiro aponta que o gigante asiático concentra o que pode ser considerada a maior entrada de capitais em uma economia em toda a história.
Do outro lado do fronte está os Estados Unidos, que cambaleiam para sair da crise e têm hoje 40% dos seus empregos precarizados, além de crescente pobreza, com situações dramáticas como a de Detroit. Belluzzo destaca que a realidade dos empregos na maior economia do mundo está relacionada ao avançado processo de substituição das tarefas convencionais por processos tecnológicos e a cada vez mais lenta contrapartida de surgimento de novos mercados de trabalho, o que aprofunda o poço do desemprego no país, sem uma saída à vista.
A China continua a garantir empregos pelo crescimento avassalador da sua indústria nos últimos quinze anos. Desde o começo do século, a indústria chinesa cresceu mais de 130%. “A China passa hoje por um processo muito semelhante ao que passaram Alemanha e Estados Unidos no século 19”, afirma Belluzzo, ao lembrar da evolução das indústrias dos dois países antes da 1ª Guerra Mundial.
Segundo o professor, no final do século 19 as economias alemã e americana já se preparavam para tomar a hegemonia econômica das mãos da Inglaterra. Hoje, enquanto os Estados Unidos sofrem com a gradual queda de seus indicadores econômicos, em regressão desde os anos 70, a China tem fôlego para crescer mais, apesar da desaceleração do país nos últimos anos.
Para Renildo Souza, a China deve encarar dificuldades importantes nos próximos anos, principalmente porque o crescimento industrial do país está batendo no teto. Segundo o professor, 50% do PIB chinês é reaplicado em aumento da capacidade produtiva do país enquanto a demanda no mercado internacional tem caído de maneira drástica, principalmente em relação a produtos industrializados. “Isso (investimentos vultuosos) não pode se estender indefinidamente. As empresas chinesas buscaram muito crédito para se integrarem ao mercado e agora estão endividadas”, garante o professor.
Além da questão econômica, há também os problemas socioambientais no país asiático, que lida com níveis assustadores de poluição e uma crescente concentração de renda, mesmo com o importante dado de 400 milhões de pessoas se beneficiando da ascensão social. Souza alerta para os conflitos de classe que se instalam no interior do país, onde a opulência dos novos ricos contrasta com a vida sofrida do trabalhador precarizado.
O crescente protagonismo da China nas décadas a seguir é um consenso. Resta saber quais soluções o país vai encontrar para evitar que o capitalismo chinês tenha o mesmo destino do europeu e do americano, que ganharam sobrevida com as duas guerras mundiais e agora minguam de maneira fúnebre.
As questões envolvendo o futuro da economia chinesa se tornam ainda mais nebulosas ao levar em conta que, de acordo com as previsões do economista francês Thomas Piketty, o século 21 tende a presenciar crescimentos miúdos na economia, menores que os registrados na média de toda a história do capitalismo. Ao mesmo tempo que as economias crescem pouco, a concentração de renda tende a se agravar com a diluição dos postos de trabalho e o aumento da participação do capital (seja ele financeiro, imobiliário ou industrial) na riqueza das nações ao redor do mundo.