Primeiro livro da editora Claraboia, “Ninguém solta a mão de ninguém – manifesto afetivo de resistência e pelas liberdades” chega para discutir o momento que o país vive. Na obra, o leitor encontrará vinte e dois textos inéditos e uma reprodução que perpassam entre os mais diversos gêneros literários como poesia, prosa, ensaio, canção, crônica, charge e carta, e se dão as mãos em uma narrativa cujo fio condutor é o afeto, a resistência e a bandeira colorida das liberdades individuais.
Organizado de forma independente pela editora Tainã Bispo, a obra reúne vinte e quatro nomes entre jornalistas, escritores, artistas e representantes dos movimentos negro e LGBTQ+ com a intenção de manter vivo o sentimento de coletivo da nação. “É um projeto independente e apartidário, que reflete sobre as diversas pontes que precisaremos (re)construir para enfrentar o obscurantismo, a burrice, a deselegância, a violência, os preconceitos e esse cheiro de mofo de assola o país”, explica a editora.
Entre os nomes de destaque da obra estão os jornalistas Juca Kfouri, Leonardo Sakamoto, Antonio Prata, a psicanalista Vera Iaconelli, o ex-Ministro de Estado da Educação Renato Janine Ribeiro, os escritores Julián Fuks e Alexey Dodsworth e a Anielle Franco, irmã de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro brutalmente assassinada em Março de 2018. As 192 páginas do livro que carrega a cor amarela predominante como um grito de alerta ainda apresentam ilustrações inéditas da artista Thereza Nardelli, que cedeu os direitos da arte para a publicação, e uma charge do cartunista convidado Junião. A cantora Ceumar também marca presença no livro com a canção “Por quantas vezes?”, criada em parceria com o escritor Lauro Henriques Jr.
Inspirada pela ilustração da tatuadora que viralizou nas redes sociais no dia 28 de outubro de 2018, a editora Tainã sentiu a necessidade de criar pontes entre pessoas que pudessem dar as mãos e fazer resistência com as palavras. “Foi justamente esse ânimo que senti ao ver a ilustração. Depararme com essa imagem forte e delicada me deu o impulso necessário para transformar indignação, perplexidade e raiva em uma reposta concreta”, explica a organizadora da obra. Frase dita por Lêda Maria Brandi Nardelli para sua filha em um momento difícil de família, foi no contexto da eleições presidenciais que a tatuadora se apossou das palavras da mãe para criar a arte, instantaneamente divulgada por inúmeros artistas, famosos e influenciadores. Só no Instagram da Thereza, onde foi publicada originalmente, a ilustração conta com mais de 55 mil curtidas. A frase se tornou uma corrente de afeto e inspirou a primeira obra do selo independente Claraboia. Com lançamento agendado para 3 de abril na Livraria Tapera Taperá (São Paulo) e 12 de abril na Livraria Leonardo da Vinci (Rio de Janeiro), o livro estará disponível para venda na Amazon em versão física e em e- book e em algumas livrarias independentes, como Blooks, Zaccara, Martins Fontes e Quixote. “Por quantas vezes?”, canção de Ceumar e Lauro Henriques Jr. já está disponível nas plataformas de streaming. O clipe pode ser acessado em: https://youtu.be/hekUSJ6wEEk
Ao chegar àquela rua no dia do crime, a primeira imagem que vi foi exatamente a mão de minha irmã pendurada para fora do carro com seu sangue escorrendo e pingando. Uma imagem forte, uma imagem que jamais esquecerei. Uma imagem que pude apenas gravar e lembrar, pois, infelizmente, naquele momento fui proibida de segurar a mão dela. Tudo o que eu queria era segurar e tocar, embora simbolicamente eu soubesse que seria a última vez. E não pude. Eu gritava: “me deixa segurar a mão dela”. Eu não consegui! Mas, hoje, sigo segurando as mãos dos meus. Seguro firme as mãos de todas as mulheres vítimas de violência doméstica ou qualquer outro tipo de violência; principalmente as mulheres negras como eu, que continuam sendo a carne mais barata do mercado. Por aqui, seguiremos honrando o sangue de Marielle Franco e lutando por igualdade, respeito e representatividade.
A meta, o valor, a finalidade é que o Brasil precisa acabar com a miséria (praticamente liquidada, nos últimos anos, mas que agora ressurge) e, mais adiante, com a pobreza. Isso se faz pela inclusão social. Isso significa garantir condições dignas de alimentação, moradia, transporte e saúde. Além disso, uma educação de qualidade. Separo a educação dos outros fatores porque educação é 100% investimento. Educar é preparar pessoas para viver melhor, o que inclui ganhar mais e gastar em produtos melhores. A batalha pela qualidade é essencial, na educação. Apesar de termos ampliado enormemente o número de alunos em todos os níveis de ensino, a qualidade da formação recebida ainda deixa a desejar.