Por Felipe Bianchi
Na abertura do 3º Encontro de Blogueiros e Ativistas Digitais do Paraná, que acontece entre os dias 12 e 13 de junho, em Curitiba, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) fez duras críticas à grande mídia, exaltou a importância do movimento de blogueiros e provocou reflexão sobre os desafios da blogosfera e do ativismo digital.
Na companhia do deputado estadual Tadeu Veneri (PT-PR) e de Ualid Rabah, diretor de Relações Institucionais da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), Requião revelou sentir grande entusiasmo com o poder, o alcance e a influência dos blogueiros e ativistas digitais na sociedade brasileira. No entanto, apesar do rompimento do cerco da mídia privada, o senador avalia que ainda falta muito para superar a hegemonia desta e a sua missão de mentir e distorcer os fatos
“Costumamos zombar da grande mídia monopolista, mas ao contrário de nosso desejo e de nossas ilusões, o seu poder e a sua capacidade de influenciar e plasmar as camadas médias da população ainda são enormes”, pondera. “A tiragem dos jornais e revistas encolheram, quase à mingua, mas não podemos ignorar a incidência poderosa das seis famílias monopolistas sobre a população brasileira”.
Com largo histórico de defesa da liberdade de expressão em sua trajetória parlamentar, Requião exaltou a realização do #3ParanáBlogs e o papel jogado pelo ativismo digital em tempos de difícil conjuntura política. “A bem da verdade, a ofensiva conservadora teria causado muito mais estragos não fosse a resistência dos blogueiros progressistas e dos ativistas digitais. Precisamos avançar e alcançar as grandes massas. Do contrário, não conseguiremos deter o fascismo que toma o país de assalto”.
Segundo ele, os blogueiros precisam promover um debate qualificado, que vá além da agitação e da propaganda e do comportamento de ‘torcida de futebol’. “É preciso ser eficaz na agitação e na propaganda, mas também na mobilização e na formação, na guerrilha e fustigação”, afirmou.
Recordar e refletir o 29 de abril
O episódio do massacre do Centro Cívico em Curitiba é, de acordo com o deputado Tadeu Veneri, uma das datas mais sombrias da história paranaense. Por isso, segundo ele, é também uma grande oportunidade para a esquerda e os movimentos populares refletirem sobre os rumos do estado. “O conservadorismo no Paraná é uma construção histórica, já que sempre tivemos alguns poucos momentos de avanço e longos períodos de retrocesso”, pontuou. “O massacre do Centro Cívico é reflexo disso, mas como chegamos a esse ponto?”.
Apesar do autoritarismo e da truculência esbanjados no 29 de abril, além da fama de censor de blogueiros, a figura de Beto Richa não foi devidamente ‘descontruída’ pelos setores progressistas, de acordo com Veneri. “Não fomos capazes de construir uma oposição efetiva e eficiente para combater essa imagem de ‘bom moço’ do governador. Tivemos dificuldade de construir um contraponto e isso deu a impressão de um ‘conforto’ para muitas pessoas, de que aquilo era o ideal”.
A história do 29 de abril foi contada coletivamente, principalmente por meio das mídias sociais, mas se é preciso “refletir sobre o que aconteceu, é muito mais urgente refletir sobre o que virá daqui pra frente”, opinou. “Por mais que seja um governo fragilizado, não podemos nos enganar: é preciso construir um outro olhar sobre o que queremos para o Paraná. Precisamos entender, por exemplo, como todos nós fomos trabalhar no dia seguinte ao massacre? Enquanto não pensarmos nisso, não romperemos com o conservadorismo no estado”.
Retrocesso em escala internacional
Na visão de Ualid Rabah, descendente palestino, o genocídio da população negra no Brasil e o massacre contra os trabalhadores no Paraná seguem a mesma lógica da opressão sofrida pelos africanos. “A desinformação da mídia é feita por uma confusão: que jamais se pergunte e questione o que está sendo informado”, disse.
Segundo a mídia, “que monopoliza a mentira”, de acordo com Rabah, o maior detentor de reservas petrolíferas do mundo é a Arábia Saudita, que fica no Oriente Médio. “Isso é vigorosamente mentira. A maior reserva petrolífera do mundo é a venezuelana, que inclusive cresceu, de 2001 para 2010, de 90 milhões de barris diários para 296 milhões”, rebate. “O problema, claro, é o Chávez. Os veículos de comunicação, em nenhum momento, permitem que isso seja enxergado, mesmo que seja tema frequente nos noticiários”.
Para ele, trata-se de uma ‘grandiosa’ ofensiva conservadora para tomar a totalidade dos recursos energéticos renováveis e não-renováveis. “A onda do conservadorismo atinge a Rússia e todo o Oriente Médi – este ocupado militarmente, com coturnos estadunidenses em solo. Assim começamos a entender tudo o que se desenha neste debate que fizemos hoje”.