Por Laurindo Leal Filho, conselheiro do Barão de Itararé, na Rede Brasil Atual
A Globo interrompe sua programação, pouco antes do Jornal Nacional, para dar uma notícia extraordinária. Gravação mostrava relações promíscuas entre Michel Temer e o dono da empresa JBS. A partir dai o conglomerado de mídia líder do movimento golpista que derrubou a presidenta Dilma Rousseff e apoiadora fiel do governo ilegítimo passou a atacá-lo duramente. Outras empresas de comunicação não adotaram a mesma linha, caso dos jornais Folha de S.Paulo, o Estado de S. Paulo e da Rede Bandeirantes. Ao contrário, seguiram apoiando o governo ilegítimo.
Aparentemente rompia-se o monopólio de ideias defendidas pelo conjunto dos grandes meios de comunicação brasileiros, formadores há muito tempo de um verdadeiro partido político, hoje aliado a setores do Judiciário. A divergência, no entanto, é apenas tática e superficial. O alinhamento de todos eles continua firme em torno das reformas trabalhista, previdenciária e política. Discordaram momentaneamente em torno apenas de quem seria o condutor desse processo. A novidade foi que as Organização Globo, com sua longa experiência de envolvimento com os poderes constituídos, viram com antecedência a impossibilidade do governo Temer de levá-las adiante com presteza e agilidade.
Um governo com baixíssima popularidade teria muita dificuldade de implementar as reformas. Ainda mais depois do sucesso da greve geral de 28 de abril. O vazamento da conversa entre o presidente da República e o dono da JBS veio a calhar. Serviu de justificativa para que a Globo virasse de lado e passasse a apostar numa rápida substituição do governo Temer por outro, eleito indiretamente pelo Congresso, capaz de seguir em frente com as reformas.
Repetia-se, dessa forma, o que ocorreu no episódio da eleição e da renúncia de Collor. A Globo criou o candidato na figura do Caçador de Marajás alagoano, o elegeu e depois de algum tempo resolveu destituí-lo, apoiando movimentos como o dos famosos “caras-pintadas”. Agora faz o mesmo. Encabeçou o golpe contra Dilma colocando Temer na presidência para, neste momento, pedir a sua cabeça.
No primeiro domingo de junho, a Folha de S.Paulo, em editorial, deu também uma guinada. Sem o estardalhaço do grupo Globo, realizou mais discretamente o seu desembarque do governo Temer. Mas foi bem mais explícita do que o grupo carioca na persistência do apoio às reformas e na descrença na capacidade do governo em realizá-las. “O governo Temer vem implantando um audacioso elenco de reformas estruturais que estão no rumo certo. Sua capacidade de seguir adiante com esse programa parece seriamente prejudicada”, diz o jornal da família Frias.
E segue: “Por ora, o mais importante, com ou sem Temer, é que o governo e o Congresso persistam nesse rumo, único capaz de nos livrar da recessão e preparar um futuro mais próspero e promissor”. Ainda não se ouviu algo semelhante do Estadão ou da TV Bandeirantes. Mas mesmo que não sigam as piruetas de Globo e Folha, esses e outros integrantes do partido da mídia continuam unidos na defesa das medidas anti-populares e anti-nacionalistas colocadas em prática pelo governo originário do golpe.
As diferenças superficiais entre um e outro meio de comunicação não representam, como se vê, nenhum alento para aqueles que sonham com um conjunto de meios diversificados, capazes de oferecer diferentes interpretações da realidade, dando ao público a possibilidade do entendimento e da escolha. Aqui não é possível ler ou ouvir nesses veículos análises críticas às reformas trabalhistas, elaboradas por entidades acadêmicas ou sindicais. Muito menos apreciações fundamentadas mostrando a falácia que é o tal “déficit da Previdência”, mote usado por essa mídia para justificar o fim desta que é, sem dúvida, uma das mais importantes proteções sociais ainda existentes no pais.
A guinada pioneira da Globo, seguida pela da Folha, um pouco mais tardia, representam também a tentativa de ambas de se tornarem fiadoras de primeira hora de um novo governo que parece se anunciar para breve.