A jornalista de Guaratinguetá e correspondente de guerra internacional, Lúcia Helena Issa, será homenageada em Paris no mês de outubro pela Divine Académie Française des Arts Lettres et Culture, uma instituição acadêmica sem fins lucrativos que premia trabalho de escritores, jornalistas, artistas plásticos, criadores e talentos eméritos de grande expressão no Brasil e que se destacam internacionalmente.
Por Daniele Dias, de Guaratinguetá/SP
Nascida na cidade de Guaratinguetá, estado de São Paulo, a escritora vive atualmente no Rio de Janeiro, onde trabalha como correspondente internacional e dedica-se à produção literária. Jornalista pós-graduada em Roma, onde viveu por seis anos, Lúcia Helena começou a trabalhar como colaboradora especial da Folha de São Paulo, na Itália, em 1998, e publicou livros sobre os direitos das mulheres, bem como suas buscas e lutas por respeito e dignidade. Cobriu o fim da guerra iugoslava em 2001, o conflito Israel-Palestina nos últimos quatro anos e, em 2017, a guerra na Síria.
A dor e o sofrimento que testemunhou das pessoas envolvidas nesses conflitos exerceram forte impacto em sua vida e obra. Desde então, passou a realizar um trabalho humanitário, em prol da paz e contra a proliferação das armas. “Quando você junta essa combinação explosiva, de ódio político com acesso fácil a armas, isso se transforma em uma guerra civil, em que todos perdem”, conta a jornalista, que testemunhou há mais de 15 anos o fim da guerra na ex-Iugoslávia e o doloroso processo de destruição da nação.
Com experiência de 20 anos como correspondente internacional, e por ter testemunhado ataques, explosões e ameaças de grupos extremistas, recentemente Lúcia Helena se propôs a realizar um trabalho diferente. Em vez de narrar os conflitos como jornalista, ela transformou em trabalho humanitário e pacifista a experiência adquirida na cobertura deles. Viajou voluntariamente pelos campos de refugiados da Síria, abraçou e conheceu de perto as mulheres que vivem em meio ao fogo cruzado e, com a ajuda de amigos do Rio de Janeiro e de São Paulo, comprou brinquedos e material escolar para 300 crianças que moram no Campos de Zahle, na fronteira entre Síria e Líbano. “A dor daquelas pessoas me impactou muito. Mulheres e crianças são os que mais sofrem. Acordam em um local bombardeado, onde a alimentação foi destruída, contaminada por urânio, bombas, e precisam encontrar o que comer”, conta.
No dia 14 de setembro de 2018, a jornalista recebeu na Bahia a Medalha Marielle Franco, outorgada pelo respeitado movimento e bloco-afro de Salvador, o Olodum, em parceria com a Prefeitura. Em outubro, Lúcia Helena embarcará para a França, onde receberá o título de “Embaixadora da Paz”, também pelo trabalho humanitário na Síria, homenagem da renomada academia Parisiense Divine Academie Française des Arts, Lettres et Culture. “O coração bate mais forte. É o reconhecimento de um dos trabalhos mais importantes de toda a minha trajetória, e uma forma de dar voz à dor e à esperança das mulheres refugiadas”, afirma, emocionada.