21 de novembro de 2024

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Sob ataque, movimentos sociais tem de valorizar pequenas vitórias e organizar a luta ‘em dobro’

Parte da programação do IV Curso Nacional de Comunicação do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé foi reservada para debater a ofensiva neoliberal e do governo Bolsonaro contra os movimentos sociais. Coube a Clemente Ganz Lúcio (coordenador do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Econômicos – Dieese), Iago Montalvão (presidente da UNE) e João Paulo Rodrigues (coordenador do MST) falarem sobre o assunto e como as organizações populares podem atuar para enfrentar esta conjuntura adversa. 

Por Moacy Neves, do Sindsefaz Bahia, para o Barão de Itararé

Fotos: Felipe Bianchi

Primeiro a intervir, Clemente alertou os presentes sobre a dificuldade de o movimento social entender as transformações na economia e no mundo do trabalho. Ele falou que as relações mudaram profundamente com as transformações tecnológicas na indústria e em outros setores econômicos, trazendo dificuldades para a organização sindical – no seu atual modelo -, dar resposta. 

Para Clemente, um novo mundo está sendo construído pela internet, que estabeleceu novos formatos de relacionamento humano sob sua mediação. Diante desta realidade, é preciso que os movimentos sociais tenham capacidade de inclusão da juventude nas suas organizações, porque são os jovens que farão a luta nesse novo mundo que está sendo gestado atualmente. 

O coordenador do Dieese ponderou que apesar das derrotas que sofremos desde 2016, devemos valorizar as vitórias, mesmo que pontuais. Ele deu como exemplo a derrubada da capitalização na reforma da Previdência, vitória que conquistamos contra um governo recém-eleito, que foi apoiado neste tema por setores poderosos, como os bancos.  “É pouco, mas foi uma vitória importante”, disse ele.  

João Paulo, segundo a intervir, instou os presentes no Curso do Barão a não alimentarem o desespero entre nós e nem perder a perspectiva da luta. Lembrou que após as eleições de 2018 ele ouviu muita gente dizer que sairia do Brasil e com pouco mais de três meses de gestão Bolsonaro já estávamos na rua, coisa que não conseguimos, por exemplo, no primeiro ano do governo FHC. 

O dirigente do Movimento Sem Terra afirmou que o nosso desafio é organizar amplas parcelas do povo para fazer a oposição a este governo. “Precisamos encontrar na sociedade os setores que poderão estar ao nosso lado, como os nacionalistas, desenvolvimentistas e sociais democratas, para atraí-los à luta de construção da resistência”, disse. Aliado a isso, precisamos retomar o trabalho de base e a formação política. 

Último a falar, o recém-eleito presidente da UNE, Iago Montalvão, defendeu a criação de uma frente ampla para impedir os ataques do governo às nossas conquistas. Ele afirmou que a educação é uma área crucial para o bolsonarismo e temos que aproveitar o papel mobilizador da bandeira da defesa da universidade pública para atrair até setores sociais que, por exemplo, não estiveram conosco na última batalha eleitoral. 

Iago disse que a defesa da educação pública pode vitaminar outras bandeiras como as da liberdade e a da democracia. “Precisamos ampliar a capacidade de incluir diferentes, radicalizar a participação de mais e mais jovens sem desconsiderar que organizações como a UNE, que muitas vezes são questionadas por alguns segmentos, são entidades que há décadas estão na vanguarda da luta do povo brasileiro”, concluiu.