Em menos de 24 horas, presidente do PSD e secretário de Governo de SP foi entrevistado 3 vezes por veículos da família Marinho. Em artigo, Merval diz que Tarcísio é de “centro-direita” e responde ao flerte de Kassab, que articula para dar uma rasteira em Ratinho dentro da sigla
Plínio Teodoro | Revista Fórum
Presidente do PSD, partido que elegeu 878 prefeitos no primeiro turno das eleições, Gilberto Kassab está sendo cortejado pela Rede Globo, onde deixou escapar que defende “pessoalmente” a candidatura de Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) e sinalizou que articula com partidos, como o MDB e o Republicanos, para refazer a “frente ampla” com o Centrão, dessa vez em torno de uma candidatura de “centro direita”.
A sinalização empolgou a Globo, que já vinha flertando com o governador paulista para encampar a terceira via. Nas últimas 24 horas, Kassab deu 3 longas entrevistas aos veículos da família Marinho – duas na Globonews e uma no jornal O Globo – e defendeu o nome de Tarcísio, de quem é Secretário de Governo.
Em artigo, Merval Pereira, porta-voz político do clã, defendeu ainda que figuras como Tarcísio e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, são quadros da “centro-direita”, tirando os dois políticos do espectro neofascista, de Jair Bolsonaro (PL).
Indagado se estará com Lula em 2026, Kassab negou e disse: “meu projeto é Tarcísio e estarei alinhado com projeto compatível com o de Tarcísio, seja ele governador ou presidente”.
“O PSD, no momento certo, vai iniciar suas consultas para planejar o que fazer no plano nacional”, disse.
“Mas, o que eu posso dizer é que eu, pessoalmente, sempre defenderei acompanhar o governador Tarcísio. Agora pergunte sobre minha opinião pessoal: se ele for candidato a presidente, eu vou defender que o PSD o acompanhe”, emendou Kassab, para alegria da família Marinho.
Rasteira no Ratinho?
Já na entrevista na edição desta terça-feira (8) ao jornal O Globo, Kassab foi mais cauteloso por receio de, segundo ele, atropelar uma decisão do PSD, que já teria decidido que seria Ratinho Jr., governador do Paraná, o presidenciável caso a sigla opte por candidato ao Planalto em 2026.
No entanto, Kassab piscou para a Globo, ressaltando mais uma vez que “pessoalmente” Tarcísio é seu preferido e que vai brigar internamente por ele dentro do partido em que é considerado dono.
“Se o PSD tiver candidato a presidente, hoje o nome é o do Ratinho Jr. Mas também pode não ter. Em 2022, tínhamos nomes posicionados com alianças mais à direita, como o próprio Ratinho, e outros mais à esquerda, e por isso não lançamos. Se o Tarcísio concorrer, vou ponderar com o partido que o melhor seria apoiá-lo, mas o que eu vejo cada vez mais, pessoalmente, é uma preferência para que ele seja candidato a governador”, disse Kassab, acrescentando em seguida que o governador paulista “não exclui nada”.
“Se ele perder a eleição presidencial em 2026, São Paulo perde também um grande governador. Ele pode chegar com mais musculatura em 2030, após oito anos de realizações e entregas no estado”, emendou.
As contas de Kassab
Articulador político e com trânsito em todos os partidos, Kassab afirmou que pode ceder aos anseios da mídia liberal e do sistema financeiro para lançar Tarcísio já em 2026, mas ressalta que a eleição mais certa é a de 2030, quando o ex-secretário de Dilma Rousseff (PT) e ex-ministro de Bolsonaro não teria que enfrentar Lula, que segundo ele, “está acima dos partidos de esquerda”.
“Lula não pode ser menosprezado nunca. É um dos motivos para eu achar que o Tarcísio não deveria concorrer à Presidência. Enfrentar o Lula nunca é fácil. E a avaliação dele não é ruim, é regular — o que não é nada mal para alguém que há alguns anos estava numa situação muito difícil. Tenho certeza de que ele será candidato”, diz.
Kassab ainda sinaliza que trabalha para tirar Tarcísio de vez da influência de Bolsonaro, colocando o ex-presidente na ala mais radicalizada e de difícil trânsito no Centrão.
“Se for o Bolsonaro, aí Tarcísio pode ser vice. Mas não sei, acho que ele (Tarcísio) estará muito bem. Tarcísio é uma liderança inconteste da direita. Se houver dois líderes da direita no Brasil, são Tarcísio e Bolsonaro. Os partidos de centro vão preferir caminhar num diálogo com o Tarcísio, já que o Bolsonaro nunca quis dialogar”, afirma.
De volta à Globonews na manhã desta terça-feira, em entrevista a Monica Waldvogel, Kassab fez mais um aceno à família Marinho, dizendo que já articula com o MDB paulista, de Ricardo Nunes e Michel Temer, a frente ampla para a candidatura de “centro direita” de Tarcísio.
“O Tarcísio hoje é um líder da centro-direita. Ele até pessoalmente pode ser de direita, mas como figura política ele é um líder da centro-direita”, disse.
A declaração vai ao encontro do artigo de Merval Pereira que diz que as eleições de domingo (6) mostraram que a “Centro-direita se impõe” e coloca os governadores Tarcísio e Zema – e até Ronaldo Caiado (União), de Goiás – como novas lideranças sondadas para a terceira via.
“A direita que predomina hoje é do Centrão, do PSD de Kassab, de governadores como Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado e Romeu Zema”, diz Merval, porta-voz dos Marinho que usa o resultado das eleições para chantagear Lula.
“O PSD elegeu o maior número de prefeitos. Seu presidente, Gilberto Kassab, é um exemplo dessa política que prevaleceu. Sabe fazer acordos e negociar com outros partidos. O governo Lula terá de ceder espaço maior para a centro-direita, e nada indica que esse grupo apoiará a esquerda na eleição de 2026”, emenda Merval, , flertando com Kassab e Tarcísio.
