12 de abril de 2025

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A guerra digital nas eleições: entre desinformação e mobilização digital

A desinformação não é mais um detalhe periférico das campanhas eleitorais – ela se tornou uma peça central da disputa política. O uso massivo de fake news, narrativas fabricadas e deepfakes criados por inteligência artificial já não se limita a grupos isolados, mas opera de maneira coordenada e estratégica, alimentada por algoritmos que amplificam conteúdos virais, independentemente de sua veracidade. O problema não está apenas na propagação das mentiras, mas na forma como elas são estrategicamente planejadas para confundir, desgastar adversários e desmobilizar eleitores.

Por Guilherme Imbassahy, para o Barão de Itararé*

Em eleições ao redor do mundo, vimos a desinformação ser utilizada como arma política com grande impacto. Desde a Cambridge Analytica, que explorou dados de milhões de eleitores para manipular sua percepção política, até operações contemporâneas que utilizam inteligência artificial para criar discursos falsos, a manipulação digital se tornou um elemento crucial para campanhas que apostam no caos informacional como estratégia eleitoral. No Brasil, as redes de desinformação não operam apenas na superfície das redes sociais abertas, mas também em grupos de WhatsApp e Telegram, tornando a identificação e o combate a essas práticas ainda mais desafiadores.

A inteligência artificial potencializou esse fenômeno. Hoje, algoritmos são capazes de criar imagens, áudios e vídeos convincentes, que podem ser usados para destruir reputações em questão de minutos. Ferramentas de IA também são empregadas para automatizar a disseminação de fake news em larga escala, criando robôs que replicam e reforçam narrativas políticas falsas, dando a impressão de que há um movimento orgânico de apoio a determinadas ideias. O impacto disso não se limita à percepção pública sobre um candidato, mas pode influenciar diretamente a participação eleitoral, alimentando campanhas de desinformação sobre datas de votação, supostas fraudes no sistema eleitoral ou ataques a instituições democráticas.

A necessidade de mobilização digital para respostas eficientes

Diante desse cenário, a reação do campo progressista não pode se limitar a responder fake news individualmente ou confiar exclusivamente em verificadores de fatos. O combate à desinformação exige uma estratégia de mobilização digital eficiente, que não apenas reaja às narrativas adversárias, mas consiga pautar a agenda e criar redes de apoio suficientemente fortes para impedir que boatos se espalhem sem resistência.

A extrema direita e grupos radicalizados entenderam cedo o papel da organização digital na disputa política. Seus grupos trabalham de maneira coordenada, criando conteúdos altamente compartilháveis, com discursos que apelam para emoções fortes como medo, indignação e revolta. No campo progressista, muitas campanhas ainda operam de forma fragmentada, sem uma estrutura digital bem definida, o que as deixa vulneráveis a ataques coordenados.

O segredo para enfrentar esse desafio não está apenas na disseminação de conteúdo verdadeiro (o que é sempre necessário), mas na capacidade de engajar comunidades digitais e estruturar redes de defesa contra desinformação. Isso passa por algumas ações estratégicas fundamentais:

  • Criação de núcleos de resposta rápida: Times preparados para monitorar tendências e desmontar fake news antes que elas ganhem tração.
  • Ativação de influenciadores e lideranças locais: Pessoas com credibilidade dentro de determinados segmentos são mais eficazes na propagação de conteúdos confiáveis do que postagens genéricas.
  • Uso inteligente de tecnologia: Ferramentas de escuta social e análise de dados podem antecipar ataques digitais e identificar padrões de disseminação de desinformação.
  • Construção de comunidades engajadas: A luta contra a desinformação não se ganha apenas com grandes campanhas, mas com redes ativas que defendam a verdade e mobilizem a base para contestar narrativas falsas.

Assim, a mobilização digital deve ser pensada de forma estruturada, atrelando-se inclusive com a mobilização presencial, como parte essencial das campanhas progressistas, e não como um apêndice ou resposta tardia aos ataques adversários.

A mobilização do campo progressista

Se há uma lição clara das últimas disputas eleitorais, é que a comunicação digital não pode ser tratada como algo secundário. O campo progressista ainda falha em estruturar redes de mobilização com a mesma eficiência que seus adversários, deixando vácuos que são rapidamente ocupados pela desinformação.

Parte dessa dificuldade vem de uma visão ultrapassada sobre o papel das redes sociais na política. Muitos ainda acreditam que a internet é apenas um espaço para divulgar mensagens institucionais ou responder pontualmente a ataques. No entanto, a realidade mostra que as redes sociais são hoje um território de disputa contínua, onde vencer a guerra da informação exige constância, criatividade e engajamento genuíno.

Outro desafio é a falta de investimento na formação de equipes especializadas. Enquanto grupos reacionários financiam estrategistas digitais, contratam empresas de análise de dados e investem em impulsionamento de conteúdo, muitas campanhas progressistas ainda contam apenas com equipes reduzidas e recursos limitados para o digital. Sem uma mudança nesse cenário, continuaremos jogando na defensiva, enquanto os adversários moldam a percepção do eleitorado com estratégias bem coordenadas.

Se o campo democrático deseja vencer não apenas eleições, mas a batalha pela preservação e aprimoramento da própria democracia, precisa entender que a mobilização digital não pode ser uma estratégia reativa. Ela precisa ser estruturada, planejada e, acima de tudo, eficiente. O futuro das eleições será decidido tanto nos algoritmos quanto nas ruas – e quem não souber jogar nos dois campos estará em desvantagem.

A pergunta que fica é: estamos preparados para assumir o protagonismo dessa disputa ou seguiremos reagindo ao caos informacional criado pelos adversários?

*Guilherme Imbassahy, especialista em marketing político e sócio proprietário da Flex.AG, atuando no campo democrático há mais de 15 anos. Graduado em Relações Internacionais, Marketing Internacional e pós-graduado em Comunicação Eleitoral e Marketing Político

A Coluna do Barão é um espaço dedicado à publicação de análises e reflexões sobre a comunicação e questões como a política, a economia, a cultura e sociedade brasileira em geral. A coluna traz textos exclusivos de autores e autoras diversos, em sua ampla maioria, membros a Coordenação Executiva ou do Conselho Consultivo do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. O conteúdo dos artigos não expressam, necessariamente, a visão da organização.