23 de setembro de 2025

Lula detona Trump à imprensa dos EUA: “Se fosse no Brasil, estaria no banco dos réus”

Lula em entrevista à jornalista Amna Nawaz, da PBS News.
Créditos: Reprodução/PBS News

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em sua primeira viagem aos Estados Unidos desde a imposição das tarifas de 50% contra o Brasil, mandou recados contundentes ao presidente Donald Trump. Em entrevista ao canal PBS NewsHour nesta segunda-feira (22), às vésperas de abrir a 80ª Assembleia Geral da ONU, Lula chamou de “absurdo” a medida do republicano e acusou-o de desrespeitar a democracia brasileira.

Ivan Longo | Revista Fórum

“É inacreditável que o presidente Trump tenha esse tipo de comportamento com o Brasil devido ao julgamento de um ex-presidente que tentou dar um golpe de Estado contra o Estado democrático de direito, que tramou minha morte, a do vice-presidente e do presidente da Suprema Corte”, afirmou, em referência a Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos de prisão.

“Se fosse no Brasil, Trump estaria no banco dos réus”

Ao ser questionado sobre as críticas de Trump ao processo judicial brasileiro, Lula foi categórico:

“E eu disse ao presidente Trump: se ele tivesse feito no Brasil o que aconteceu no Capitólio, também estaria no banco dos réus, porque a lei brasileira vale para todos”.

O mandatário ressaltou que o julgamento de Bolsonaro foi elogiado internacionalmente: “Não há corte no mundo que não tenha elogiado o sistema judicial brasileiro. O processo foi democrático e garantiu a presunção de inocência”.

Veja vídeo com um trecho da entrevista: 

Relação com os EUA: civilizada, mas sem submissão

Lula deixou claro que busca diálogo, mas sem abrir mão da soberania nacional. “Um chefe de Estado precisa ter uma relação com outro chefe de Estado, independentemente da posição política. Estes são dois Estados importantes, as maiores democracias das Américas, as maiores economias das Américas. Então, é muito importante termos uma relação civilizada”.

Segundo o presidente, os EUA não podem justificar as tarifas como problema econômico, já que nos últimos 15 anos acumularam superávit de US$ 410 bilhões no comércio com o Brasil.

“Uma mesa de negociação não custa nada. Ela não destrói uma ponte, não mata uma pessoa. É mais saudável e compreendida pela sociedade”, disse, em recado direto à Casa Branca.

“Trump escolheu Bolsonaro, não o povo brasileiro”

Lula ainda destacou que nunca conversou com Trump. “Nunca falamos antes porque ele fez uma escolha. Na minha opinião, foi um erro. Ele escolheu construir uma relação com Bolsonaro, e não com o povo brasileiro”.

Mesmo assim, reafirmou abertura para o diálogo: “No momento em que o presidente Trump quiser falar de política, eu também converso sobre política”.

ONU, democracia e clima no centro da agenda

Nesta terça-feira (23), Lula abre os debates da Assembleia Geral da ONU, seguindo a tradição brasileira iniciada em 1955. O discurso deve trazer críticas a Trump e defesa da soberania brasileira, além de mensagens sobre multilateralismo, preservação ambiental e reforma da ONU.

A agenda em Nova York inclui também encontros bilaterais com líderes globais, participação em conferências sobre democracia e a apresentação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que será lançado oficialmente na COP30, em Belém.

Ao final da entrevista à PBS, Lula resumiu sua mensagem:

“Queremos ter relações de igualdade com todos. Mas o que não aceitamos é que ninguém, nenhum país do mundo, interfira na nossa democracia e na nossa soberania.”