Nesta sexta-feira (10), Beto Almeida, membro da junta diretiva da TeleSur, e Valter Sanches, presidente da TV dos Trabalhadores (TVT), discutiram a experiência de TVs não-comerciais na mídia brasileira e continental. O debate ocorreu em São Paulo, como parte do 1º Curso Nacional de Comunicação do Barão de Itararé, que acontece até domingo (12).
Tanto Almeida quanto Sanches descreveram os desafios da comunicação alternativa na atualidade, cada um em seu determinado contexto geopolítico. Em comum, a proposta de disputa de hegemonia frente ao monopólio dos grandes meios e a luta por outro jornalismo, oposto aos princípios comerciais e ao papel político desempenhado pelos conglomerados midiáticos.
Sobre a TVT, única rede de radiodifusão pública mantida por um sindicato no Brasil,Valter Sanches destaca a importância de dar voz ao cidadão comum, geralmente excluído pelos padrões estéticos e publicitários da mídia tradicional, e aos movimentos sociais. “Não somos uma TV sindical, apenas, pois exploramos nosso potencial para dialogar com todo o conjunto da sociedade”, diz.
“O movimento sindical abraçou o desafio de ficar 22 anos na fila por uma outorga e concessão de radiodifusão porque percebeu a importância estratégica da comunicação”, afirma. Em sua avaliação, o despertar do movimento se deu ainda nos anos 80, quando ficou clara a importância de meios para rebater a cobertura tendenciosa da mídia em relação às greves. “Aí entendemos que precisávamos lutar, também, no campo da mídia”.
Segundo Sanches, o processo da TVT envolve duas frentes de investimento: a primeira diz respeito à adesão ao movimento de luta pela democratização da comunicação – a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a TVT participam da campanha pelo Projeto de Lei de Inciativa Popular da Mídia Democrática. A segunda, explica, é a construção de veículos próprios de comunicação alternativa, como a Rede Brasil Atual.
No primeiro de maio deste ano a TVT somou uma grande conquista para a comunicação alternativa no país: o veículo passou a integrar a programação da NET, sendo transmitido no canal 13 para São Paulo, o ABCD paulista, Guarulhos e Mogi das Cruzes. A ideia, segundo Sanches, é melhorar ainda mais a estrutura do canal e atingir, em pouco tempo, milhões de cidadãos em todo o país.
TeleSur e a inversão da lógica editorial comercial
“Filha direta do processo revolucionário em curso na Venezuela e das transformações em curso na América Latina”, nas palavras de Beto Almeida, a TeleSur completa oito anos já consolidada como uma das principais experiências midiáticas não-comerciais do continente. A TV estatal envolve os governos da Venezuela, Cuba, Nicarágua, Equador, Bolívia, Argentina e, em breve, agregará também o Uruguai.
De acordo com Almeida, a TeleSur é uma experiência sui generis desde sua linha editorial: “Dar voz à integração continental nos campos simbólico, informativo e cultural”. Ele explica que o trabalho do veículo é elaborar uma narrativa dos povos. “O que vêem, o que aspiram? Transformar isso em produto jornalístico é o papel de uma TV que informa mas também faz sonhar e promove a solidariedade”.
O projeto da TeleSur, na visão de Almeida, é uma resposta ao jornalismo que temos no continente. “A posição dos grandes meios é de desintegração, contrária à colaboração entre os países sulamericanos”, justifica. Ainda acerca da atuação dos meios comerciais, ele destaca que os crescentes processos de integração e colaboração são invisibilizados por uma mídia “que promove golpes e dissemina mentiras diariamente”.
Admitindo as dificuldades de se manter uma rede de comunicação contra-hegemônica, Almeida opina que o mentor do empreendimento, Hugo Chávez, foi audacioso ao tomar a decisão de entrar na guerra midiática e bancar seus altos custos. “A TeleSur nasce com a concepção de mostrar uma outra versão dos fatos, que não a dos meios capachos do imperialismo”, sintetiza.
De acordo com ele, a iniciativa inverte a lógica editorial das grandes empresas do setor. “Quando a Bolívia se tornou território livre de analfabetismo, apenas a TeleSur repercutiu. A Globo não considera isso notícia”, exemplifica. “Hollywood nos vê em preto e branco, mas somos multicoloridos. Eles não conseguem entender nossa dança, nosso canto, nossa comida, nossos sonhos. Mostramos que o jornalismo pode e tem que ser uma ferramenta para ajudar, com informação e não com panfleto, a luta de libertação dos povos latino-americanos”.
Por Felipe Bianchi