15 de janeiro de 2025

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Ciclo de debates: “Faz falta ao mundo uma disputa de hegemonia”, diz economista

Por Raphael Coraccini

O economista e professor da Universidade Federal da Bahia Renildo de Souza destaca que o fim da União Soviética representou a regressão da soberania das nações periféricas, que ficaram à mercê de um liberalismo sem rédeas e sem oposição. O professor integrou a bancada da primeira palestra do “Ciclo de Debates Que Brasil é este?”, que teve como tema “Os males que afligem a economia mundial e os Brics”, que contou também com as presenças do economista Luiz Gonzaga Belluzzo e do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães.

Souza aponta que, a ascensão dos Brics, hoje, seria capaz de dar equilíbrio à correlação de forças no mundo, fazendo frente às políticas neoliberais que atacam diretamente a hegemonia das nações mais pobres e os direitos dos trabalhadores. Porém, destaca que a China, maior força do bloco, não está disposta a entrar em rota de colisão com o modus operandi do ocidente, como faz com mais sanha a Rússia. “A China não tem nenhum apetite para esse choque frontal e dá o nome de ‘ascensão pacífica’ ao seu crescimento econômico”, afirma o professor, destacando o papel apaziguador do país no xadrez político mundial.

Samuel Pinheiro afirma que o bloco poder ter papel importante no processo de restabelecimento da hegemonia nacional de países periféricos, mas que seu propósito não vai além da reforma de regras para integrar de maneira mais eficiente os mercados ao sistema internacional. Um dos principais benefícios do bloco, segundo o embaixador, é criar uma alternativa de financiamento que não tenha como contrapartida imposições de cortes em investimentos como educação, saúde e outros assuntos de primeira importância nas economias locais. “O Banco Mundial sempre serviu para disciplinar as economias dos países periféricos. Era instrumento de imposição de políticas econômicas, como na Europa atualmente, mais precisamente na Grécia”, afirma Pinheiro.

Tanto Pinheiro quanto Belluzzo destacam que a iniciativa dos Brics em facilitar o crédito a países da periferia é vista pelos países hegemônicos como um risco para o sistema de controle que eles detêm em relação ao destino dessas economias e sua interfrência na soberania nacional desses países.

Ponderações em relação à China

A China é a grande detentora do capital dos Brics e, segundo Pinheiro, seu objetivo é igual ao de qualquer império econômico: apropriar-se da maior parcela possível do mercado mundial. “Nessa luta, é importante ter acesso a mercados, recursos naturais e controle das vias de acesso”, explica o embaixador, que pondera: “Os países que buscam posição de liderança no mundo têm como objetivo comum beneficiar suas elites internas, isso deve ficar claro”.

Ainda que os chineses tenham seus interesses, o embaixador faz questão de diferenciar a nação asiática dos Estados Unidos em relação ao impulso imperialista presente em cada um dos países. Segundo ele, não está no DNA dos chineses a conquista de territórios estrangeiros. As ambições da segunda maior economia do mundo estão muito mais relacionadas à expansão de seu poderio financeiro e produtivo.