Em meio às ocupações decorrentes do anúncio do fechamento massivo de escolas por parte do Governo Alckmin, em São Paulo, entidades do movimento social e coletivos têm organizado atividades e oficinas a fim de contribuir com a resistência dos jovens estudantes.
Fruto de uma oficina realizada pelo núcleo paulista do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé na escola Fidelino de Figueiredo, no bairro da Santa Cecília, alunos desta e de outras escola produziram o texto Somos a geração da esperança, rebatendo as distorções cometidas pela grande mídia em suas narrativas sobre a luta dos estudantes. Confira:
Somos a geração da esperança
Decidimos escrever esse texto para esclarecer alguns pontos sobre as ocupações das escolas públicas que não são mostrados pela mídia.
Somos estudantes e estamos ocupados nas nossas escolas. Nossa bandeira é clara: a qualidade da educação pública.
Não estamos ocupando as escolas por não ter o que fazer, por sermos desocupados, como já chegamos a ler em revistas.
Alguns de nós já trabalham como jovem aprendiz, entregando pizza aos finais de semana ou no comércio de nossas comunidades.
Temos irmãs, irmãos, primos e até os nossos pais que estão sendo afetados pelo fechamento das escolas. Sem falar dos
nossos professores, que muitas vezes passam mais tempo com a gente do que a nossa própria família.
Sim, ocupar é o verbo mais adequado para usar nas matérias e é muito diferente de invadir. Ultimamente lemos nos jornais que são sinônimos, mas sabemos muito bem que não têm o mesmo significado. É uma ocupação porque estamos nos apoderando do que é nosso, um patrimônio público que devia ser lugar do saber.
Outra coisa que não é mostrado são os porquês de seremos contra o fechamento das escolas. Essa omissão nos leva a crer que a mídia está querendo favorecer um lado – que não é o nosso.
Somos contra o fechamento das escolas porque vai gerar ainda mais salas superlotadas.
Também somos contrários ao ensino desestimulador que nos é dado. Nosso ensino vai de mal a pior e por isso, a nossa ocupação também pede uma educação de qualidade. Muitos de nós só aprenderam a fazer uma conta de dividir no segundo ano do ensino médio. E o mais absurdo é que muitos estudantes descobrem fora da escola o quanto é bom estudar.
Queremos uma escola que nos ensine para os desafios que vamos encontrar na vida e não para o mercado ou para fazer um vestibular.
Para nós, a grade escolar poderia estimular as coisas boas que existem nos estudantes. Com as ocupações nós descobrimos o potencial de nossas colegas que estão dando aulas de artes, esportes, origami, kung fu. Por que a escola não descobriu isso antes?
Na nossa ocupação a bandeira contra a precarização da escola também está presente. O ambiente escolar não poder ser sujo, quebrado, cheio de grades.
Senhor Governador, você já utilizou algum banheiro de escola pública? Com certeza não, senão já teria feito algo para melhorar a estrutura escolar, não é?
Mas essas reivindicações não constam nas matérias que tentam retratar as ocupações. Muito menos a repressão que estamos enfrentando, que não é só da Polícia Militar com seu spray de pimenta, mas de pessoas que não esperávamos.
Em muitas escolas, as diretoras e vice- diretoras estão agindo com violência e ódio, chegando a jogar carros em cima dos estudantes, ligar para os pais para dizer a orientação sexual de estudantes e assim incentivar a intolerância nas famílias. Isso a mídia não mostra. Por quê?
De acordo com as matérias, quem está protagonizando as ocupações são os partidos políticos, o MTST, a Apeoesp, as entidades estudantis gerais. Não é verdade.
O nosso movimento é de dentro para fora e isso não quer dizer que não queremos o apoio dessas entidades, pelo contrário, queremos o apoio delas e de toda a sociedade porque a nossa causa é justa e sabemos que não é só nossa.
Temos consciência de que não podemos voltar atrás. Se uma, apenas uma escola desistir ou o Governador Geraldo Alckmin conseguir a reintegração de posse o impacto será em todas as outras, por isso, mesmo estando separados dentro de cada escola, a nossa luta é uma só: a educação pública.
Não vamos desistir, não vamos desocupar até que seja revogada a decisão de fechar as escolas. Não somos melhores que ninguém, mas somos a geração da esperança, que sonha, se organiza e luta por uma educação de qualidade e pública para todos.
Texto produzido pelos seguintes alunos:
Alicia Esteves, 16 anos
Antônio de Assis Soares, 15 anos
Clara Esteves, 16 anos
Érica dos Santos Teixeira, 16 anos
Evelyn Ferreira Lima, 16 anos
Gabriela Callis, 17 anos
Guilherme França, 19 anos
Júlia Gabriela Costa e silva, 16 anos
Leonardo Botellho Pires, 17 anos
Luana Dias Farias, 18 anos
Mickaely P. Goes, 16 anos
Ricardo Almeida dos Santos, 15 anos
Stanley Sousa, 16 anos
Thais Milena, 16 anos