Por Felipe Bianchi
Todos os holofotes do país se voltaram para Curitiba na quarta-feira (10), dia e local onde ocorreu o depoimento de cinco horas de duração do ex-presidente Lula ao juiz Sergio Moro, sobre o famigerado caso do triplex no Guarujá. O espetáculo midiático promovido em torno do acontecimento, também responsável por turbinar a figura de Moro e alavancar a Operação Lava Jato, foi objeto de duras críticas de Lula, em especial durante suas considerações finais.
“A imprensa é o principal julgador disso tudo”, afirmou o ex-presidente. “Sei que você dará a decisão final, como juiz, mas nenhum cidadão brasileiro aguentaria o que eu estou aguentando. É só ligar em qualquer jornal”. Para justificar a tese de que sofre um massacre por parte da imprensa hegemônica, Lula apresentou números contundentes. “Só nos últimos 12 meses, foram 18 horas e 15 minutos de matérias negativas no Jornal Nacional. São 12 partidas de futebol”, calcula. “Estou citando o Jornal Nacional porque é o mais importante, mas podia pegar o ‘Bom Dia Café’, ‘Bom Dia Almoço’, ‘Bom Dia Janta’, Jornal das 10, em todos os canais de televisão”, ironiza.
O ex-presidente seguiu a contabilidade do calvário diário produzido contra ele pelos grandes meios de comunicação: “De março de 2014 pra cá, foram 25 capas na IstoÉ, 19 na Veja e 11 na Época, todas me demonizando. Na Folha de S. Paulo, foram 298 matérias contra mim e só 40 favoráveis. No jornal O Globo, ‘que é meu amigo’, foram 530 matérias negativas e apenas oito favoráveis. Já no Estadão, ‘que é mais amigo ainda’, foram 318 matérias contrárias e duas favoráveis”.
Interrompido por Moro em diversas ocasiões, que chamava a sua atenção sobre suas considerações finais fugirem do tema da investigação, Lula discordou: “Não foge do tema, doutor. Esse é o problema. (…) Adotou-se uma política de, primeiro, a imprensa criminalizar a pessoa. Ninguém acusado na Lava Jato é atacado nem 10% do que eu sou”, desabafou. “Só quero que parem com ilações e digam qual o crime que cometi, com provas. Não basta levantarem uma tese e massacrarem a pessoa nos meios de comunicação”.
Moro tentou minimizar o papel da mídia na Lava Jato e no julgamento de Lula, argumentando que o processo seria regido apenas de acordo com as leis e as provas. Lula foi à carga “O fato é que muitos ficam sabendo de tudo o que está acontecendo três dias antes. Eu poderia citar o Fausto [Macedo], do Estadão, poderia citar a Veja e até um tal blog que fica nos Estados Unidos e o cidadão sabe três dias antes o que vai acontecer”, dispara. “Enquanto isso, meu advogado precisa implorar pra saber. Há um interesse de vazar, pois esse julgamento é midiático”.
Para Lula, mais que o prejuízo político, o linchamento na imprensa tem sérias consequências também para os familiares da vítima. “Que a imprensa desse essas matérias depois de o cidadão ser julgado e condenado”, diz. “Meu problema não são os meus adversários, são meus netos, de quatro e cinco anos, que sofrem bullying todo dia e me perguntam”.
“Como isso vai acabar se o Lula for inocente, se não cometeu o crime que tanto dissemos que ele cometeu? O que diremos ao nosso espectador?”, indaga o ex-presidente. “As pessoas, meus acusadores, nunca tiveram 10% do respeito que tenho por eles”. O objetivo dessa cruzada midiática, de acordo com ele, é massacrá-lo. “É como se o Lula estivesse sendo procurado vivo ou morto. (…) Parece que tenho que pagar pelo pecado de existir, de provar que esse país pode dar certo”.
Assista ao trecho do depoimento em que estão praticamente todas as informações desta matéria: