Jornalistas, comunicadores, acadêmicos, militantes e quadros políticos se reuniram para celebrar o 15º aniversário do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé no último sábado (17/05), no Al Janiah, o combativo espaço político, cultural e gastronômico palestino em São Paulo.
Por Tatiana Carlotti
Surgido em 2010, em meio à resistência de comunicadores progressistas ao domínio e aos abusos cometidos pelo oligopólio midiático privado no país, o Barão de Itararé é referência inconteste na luta pela democratização da comunicação. Ao longo desses 15 anos, levas de comunicadores populares, ativistas digitais e jornalistas encontraram em suas atividades um espaço de estímulo, afeto e proteção na luta diária que travam pela verdade dos fatos.
Foram inúmeros debates, lives, publicações, atos, encontros regionais e nacionais, além de atuação internacional, em um esforço contínuo e coletivo, mobilizado por uma diversa e representativa rede, uma coordenação suprapartidária e uma aguerrida equipe sob a condução do jornalista Altamiro Borges.
15 anos de luta
Miro conta que o Barão foi fruto da primeira Conferência Nacional de Comunicação, a Cofecon, convocada pelo presidente Lula em 2009, com Franklin Martins à frente do Ministério das Comunicações. “Foi um agito, mais de 40 mil pessoas participaram das etapas municipal, estadual e nacional, incluindo os blogueiros que surgiram em 2005 e 2006, jornalistas independentes da mídia tradicional, acadêmicos e movimentos sociais”, lembra Miro.
No final da Conferência, o jornalista Luiz Carlos Azenha trouxe a ideia de se criar uma entidade para não dispersar as forças do evento e de promover, no ano seguinte, o primeiro Encontro de Blogueiros Progressistas, o BlogProg. “O nome Barão de Itararé é uma homenagem ao jornalista Apparício Torelly, vereador do Partido Comunista (PCB) no Rio de Janeiro, considerado o pai da imprensa alternativa e do humorismo político no Brasil. Um sujeito irreverente, gozador e um frasista genial”, conta Miro.
Ele lembra que as primeiras reuniões aconteceram na casa do jornalista Paulo Henrique Amorim, o presidente de honra do Barão, que “deu imensa contribuição na criação e divulgação da entidade nacionalmente”. “Paulo Henrique, Luís Nassif, Luiz Carlos Azenha, Renato Rovai, Leandro Fortes, Eduardo Guimarães, Conceição Oliveira, Conceição Lemes se juntaram para montar o Barão que, desde o início, foi muito plural, com essa galera trabalhando da forma mais generosa possível, sem competir, preferindo somar forças”, relata.
Desde então, o Barão tem como principal missão a democratização da comunicação, o fortalecimento da mídia alternativa, o estudo da mídia e a formação de novos comunicadores. A cada dois anos, a entidade reúne ativistas digitais, blogueiros, comunicadores e jornalistas para debater os desafios da comunicação em seus encontros nacionais, o BlogProg.
“Além das atividades de formação, das publicações e debates que promovemos, ao longo desse período, o Barão teve uma importante contribuição em várias batalhas pela democratização da comunicação, como o Marco Civil da Internet e o Plano Nacional de Banda Larga. Renata Mielli, atualmente coordenadora do Comitê Gestor da Internet (CGI), pilotou várias dessas frentes”, lembra Miro.
Passados 15 anos, ele avalia que infelizmente pouco se avançou na democratização da comunicação e alerta para o fato de que os desafios escalaram. “Antes, nós brigávamos com a mídia familiar, feudal e monopolista. Agora, temos que brigar com a o domínio digital das big techs. Temos muitas brigas pela frente e o Barão estará sempre pronto para dar a sua contribuição”, garante.
Primeiras discussões
Renata Mielli (Comitê Gestor da Internet) rememora as motivações que levaram à construção da entidade 15 anos atrás. “Primeiro, a importância de criar um movimento capaz de estimular mais organizações a integrarem o ativismo em defesa de uma comunicação mais democrática no Brasil. A ideia de impulsionar um exército em prol da regulação democrática, da ampliação dos direitos, para termos mais diversidade e pluralidade nos meios de comunicação”.
“Outro objetivo, detalha Mielli, era articular a mídia alternativa naquele momento em que surgiam centenas de blogueiros, comunicadores sociais, jornalistas, entusiasmados com as acilidades para construir, produzir e publicar conteúdos na Internet. Articular, de forma mais estruturada, a ‘blogosfera’, como chamávamos, a mídia alternativa, os sites dos movimentos sociais.”
“Um terceiro objetivo era contribuir na luta pela democratização da comunicação. O Barão de Itararé veio para somar com outras entidades na articulação em torno do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação. O Barão não chegou para dividir, mas para ajudar na construção desse movimento com uma abordagem específica da mídia alternativa.
Passados 15 anos, essa é a principal marca da entidade, além da qualidade dos debates, seminários e conteúdo que produziu, tornando-se uma referência em temas como direitos digitais, diversidade, pluralidade, comunicação pública. O Barão é essa entidade que aglutina, une, articula, soma. Que todos têm como referência. Um espaço de acolhimento, produção de sinergias e construção de saídas coletivas, que sempre buscou a unidade e o diálogo. É por isso que o Barão tem essa força e representatividade”, aponta.
“Eu tenho muito orgulho de ter feito parte dessa história desde o começo. Hoje, não estou mais na diretoria, porque ocupo outros espaços que me impedem de estar, mas sou uma entusiasta, uma amiga, uma parceira. Meu coração sempre está com o Barão de Itararé, um espaço de construção coletiva em uma sociedade tão polarizada e fragmentada. Nós precisamos cada vez mais de organizações que construam pontes de diálogo. Vida longa ao Barão!”, afirma.
Acolhimento e direito à comunicação
Para entender o imenso papel do Barão nestes quinze anos nada melhor do que ouvir quem faz o Barão ser o que ele é: a sua imensa e diversa rede que reúne jornalistas, ativistas digitais, comunicadores, acadêmicos, lideranças sociais e políticas.
Segundo José Reinaldo de Carvalho (Brasil 247), a celebração desses quinze anos “é um motivo de grande alegria para todos os jornalistas e comunicadores progressistas do país. O Barão de Itararé é uma entidade que chegou para ficar na defesa do direito à informação, na divulgação das ideias progressistas e do exercício do jornalismo democrático. O Barão está de parabéns, toda a sua diretoria, seus associados e todos os que se beneficiam da grande ação que o Barão desenvolve”.
Lourdes Nassif (GGN), por sua vez, aponta que o Barão tem uma importância fundamental na sua vida. “Ao conhecer o Barão, eu conheci a força da mídia alternativa. Até então eu trabalhava em um jornal online, não em uma força social como o Barão. Eu tenho muito carinho pelo Miro, Cidoli e o pessoal todo. Eles me ensinaram que a força da mídia alternativa está na nossa união e que juntos nós fazemos sim a diferença para combater essa construção errada e prejudicial da mídia hegemônica”.
Já Miguel do Rosário (O Cafezinho) destaca que a entidade representa os blogueiros desde a sua fundação. “Sempre que eu pensava no coletivo, na necessidade da gente se organizar, eu pensava no Barão. Ele efetivamente cumpre esse papel realizando eventos, como este almoço, para nos encontrarmos e sentirmos parte de um coletivo. O Barão é a principal associação de ativistas digitais, blogueiros e jornalistas independentes”.
Dhayane Santos (TV 247) ressalta que a entidade é “um núcleo de amigos progressistas, que nos incentiva a realizar o que fazemos todos os dias. O Miro veste a camisa da mídia progressista e foi um visionário desse canhão que é hoje o Brasil 247, a Fórum, o DCM, o ICL. Todos esses canais são um projeto desse caminho possível que o Miro visualizou quinze anos atrás, para fazermos um jornalismo alternativo. O Barão para mim é um amigo que eu abraço todos os dias e estou sempre à disposição quando sou chamada”.
Cidoli, da coordenação do Barão de Itararé, menciona a alegria desses 15 anos e o fato de o Barão sempre ter acolhido as entidades e os movimentos. “A nossa principal bandeira de luta é a questão da regulação dos meios de comunicação, que é sempre muito difícil no Brasil, mas estamos conseguindo sobreviver. Espero que daqui a 15 anos consigamos comemorar novamente. Estou muito feliz aqui no Al Janiah, um espaço de luta, junto àqueles que sempre foram amigos do Barão”.
Leonardo Wexell Severo (Diálogos do Sul Global) é um desses amigos. Em sua avaliação, a celebração desses 15 anos “revigora a nossa luta num momento em que a humanidade vive um silêncio em relação a questões tão duras, como é a questão do povo palestino e de sua brutal desumanização. O Barão expressa o sentimento de luta, de esperança, de animo, de coragem, de amizade de fraternidade; valores que são substanciais e essenciais para tocarmos a vida em frente”.
Um legado, segundo Eliara Santana (Observatório das Eleições), marcado por “uma resistência propositiva, trazendo reflexões, debates, posicionamentos importantíssimos e cutucando a estrutura da mídia hegemônica. O Barão sempre fez isso com muita propriedade. Esta festa mostra isso e o quanto o Barão é essencial, não só neste momento, mas nos últimos 15 anos, quando vivemos períodos muito desgastantes e exigentes. O Barão sempre disse ‘isso não está certo, vamos fazer assim’. É assim que deve ser a comunicação, então, vida longa ao Barão!”
‘E se não tivéssemos o Barão?’
“O que seria do cenário político brasileiro sem o Barão de Itararé?”, questiona Maria Frô (Fórum Sindical), membro desde a fundação da entidade e da organização do primeiro BlogProg no Sindicato dos Engenheiros, abrangendo 17 estados e 300 comunicadores. “Já pensou se não tivéssemos criado o Barão? O BlogProg? Se não tivéssemos feito a disputa, de fato? Se não tivéssemos dito que não atiraram um projéctil no [José] Serra, mas sim uma bolinha de papel? Fake news existe há muito tempo e o quanto de mentiras já desmontamos neste período”.
“Além da defesa da comunicação como um direito e de sua democratização, o Brasil sempre fez a defesa da democracia. Ele é um polo que aglutinou comunicadores, jornalistas, ativistas preocupados com a defesa dos direitos humanos, da vida e da democracia no Brasil. Faz 15 anos que estamos em uma batalha profundamente desigual, nessa bravura. Somos um verdadeiro ‘exército de Brancaleone’ contra onze famílias financistas, que não fazem comunicação, só fazem negócios. E negócios cada vez mais cruéis, alimentados pelas bets, por políticos safados que são como os influencers que lucram com o sangue da população”, salienta.
Inês Nassif destaca o papel que o Barão teve na união das forças da mídia, fora da imprensa tradicional, para enfrentarmos “tempos muito nebulosos”. “Nesse período que o Barão existe, nós combatemos juntos, graças ao poder de articulação do Barão, o impeachment de Dilma, a prisão de Lula, a guerra híbrida. Constituímos uma resistência ao regime fascista do Bolsonaro, enfrentamos uma eleição e saímos vitoriosos, passamos juntos por uma tentativa de golpe de Estado e hoje combatemos, diariamente, as forças de extrema direita que são um perigo para o nosso futuro. Imaginem fazer tudo isso sem o poder de articulação do Barão. A gente não teria feito, por isso eu estou sempre junto do Barão e sou uma fã de carteirinha do poder de articulação do Altamiro Borges, ele é fantástico”, afirma.
A deputada Juliana Cardoso (PT SP) destaca o papel do Barão na defesa da democracia e o impacto de suas formações, principalmente, no período do golpe de Estado. “Foi muito importante para que tivéssemos ações rápidas e pudéssemos distribuir informações para a militância e assim nos organizarmos para salvar a democracia. Se a gente não tivesse o Barão, ainda estaríamos tentando fazer conversas fragmentadas. O Barão tem essa potência”, salientou.
Em sua avaliação, “vivemos hoje um momento não apenas de combate às fake news, mas de defesa da vida, da democracia, dos direitos, daí a importância da agilidade na comunicação, para que as pessoas possam entender o que está acontecendo”. Outro impacto da entidade, recorda, “foi a capacidade do Barão de aglutinar as pessoas durante a pandemia, com a promoção de um grande encontro virtual, trazendo as pessoas que estavam isoladas dentro de casa para se comunicarem. O Barão teve também essa colaboração de não deixar o pessoal entrar em depressão”, destaca.
A Paulo França, do Canal Resistentes, que marcou presença na cobertura da Festa do Barão, Ladislau Dowbor (PUC-SP) destacou a importância da mídia independente no Brasil. “É preciso combater a enganação geral dessa mídia comercial, uma mídia interessada que pertence aos grupos econômicos que, por sua vez, pertence aos grupos financeiros e, portanto, deformam a informação em defesa dos seus interesses. A festa do Barão é a festa da mídia independente. Todo trabalho dessa outra rede de informação traz a compreensão real do que está acontecendo e de como eles estão depenando o Brasil. É fundamental”, avalia.
Democracia e combate às fake news
Na avaliação do jornalista Laurindo Lalo Leal Filho, diretor do Barão, somente a articulação entre as mídias alternativas poderá “proporcionar algum tipo de enfrentamento a este conjunto de mídias de direita que hoje veiculam fake news”. Ao longo desses anos, ressalta Lalo, o Barão prestou “um serviço não apenas político, mas de cidadania e com a dimensão que conquistou, vai conseguir alcançar os próximos 30, 40 anos de vida”.
Lalo ressalta a contribuição das entrevistas da entidade “com candidatos nos mais variados níveis de poder, presidencial, estadual, municipal, legislativo, por representantes e jornalistas de várias mídias alternativas. Esse é o único momento em que temos a aproximação, ainda que virtual, dos responsáveis por um conjunto de mídias que fazem o contraponto às fake news e às campanhas horrorosas nas mídias de direita”.
“Pelo auditório da Rego Freitas, lembra, passaram figuras importantíssimas da política nacional e internacional, que não tinham e não têm espaço na mídia comercial. O maior exemplo é Pepe Mujica, que esteve no Barão e nunca teve o mesmo tratamento e espaço nas mídias tradicionais. É vergonhoso o tratamento superficial dado pela mídia comercial à morte de Mujica, uma figura de caráter internacional, que revolucionou a política do Uruguai e teve impacto em outros países, sem falar do [Noam] Chomsky e de personalidades nacionais. Talvez a figura do Flavio Dino seja a mais emblemática neste sentido”, salienta.
O idealizador do programa Cultura Viva, Célio Turino, também passou no Al Janiah, horas antes do lançamento do seu livro Sementeira (Autonomia Literária, 2025), para prestigiar os 15 anos de Barão. Em sua avaliação, o ponto fundamental da entidade “é sua visão ampla, como está representada aqui neste almoço”.
“Nos tempos atuais, o maior desafio para uma ação cultural e comunicacional transformadora é ajudar as pessoas, a sociedade a perceberam o senso de realidade. Nós precisamos nos deslocar da realidade pela arte e pela comunicação para vermos a realidade, porque hoje estamos deslocados dela. Esse encontro, a possiblidade de conversarmos ao pé da mesa com amigos, é insubstituível. Frente ao desafio da inteligência artificial, o que estamos fazendo aqui é a inteligência vital”, pontua.
“O Barão de Itararé é o centro de estudos mais agregador que eu conheço no Brasil e o mais equilibrado”, destaca Carlos Tibúrcio (Fórum 21/Fatoflix), um dos diretores do Barão. “O que o Barão fez em defesa da democratização da comunicação nestes 15 anos é impressionante. Ele vai criando raízes, inclusive agora com o novo projeto, Territórios Mídias Brasil, atraindo os veículos das periferias voltados à comunicação popular”.
“O Barão também atua em nível internacional, fortemente na integração latino-americana e da solidariedade sul-americana, até as periferias brasileiras, defendendo, criando oportunidades e estimulando jovens a entrarem nessa luta, a se formarem melhor. O Barão irá promover um encontro das juventudes neste ano e tenho certeza de que isso vai ter repercussão nacional e internacional. Viva o Barão! Viva os 15 anos do Barão”, comemora.
Rita Casaro (SEESP), também da diretoria do Barão, está na entidade desde a sua fundação. “É uma felicidade, uma alegria incrível comemorar os 15 anos de Barão. Uma satisfação ver como esta instituição evoluiu de forma solidária e fraterna. O Barão foi criado para lutar pela democratização da comunicação e, ao longo do tempo, conseguiu contribuir muito, em várias frentes, de forma solidária e coletiva, sempre pensando em como agregar nesta luta. Não chegamos propondo a invenção da roda, mas pensando em como fortalecer essa disputa que, para o nosso campo que defende a democracia e a justiça social, é absolutamente essencial”.
Atualmente, conta Casaro, “nós temos agregado a juventude de maneira muito bacana, levamos a discussão para a América Latina e continuamos fortalecendo a blogosfera progressista, a luta feminista e outras frentes que sempre existiram e estão avançando. A luta está aí, vivemos tempos muito difíceis e o Barão é uma força importante por seu caráter solidário e coletivo. Uma figura que está na mente de todos nós nesta semana é a de Pepe Mujica. Penso que ele é um guia para o Barão. O que tentamos fazer é aquilo que o Mujica nos ensinou”.
O deputado Orlando Silva (PCdoB – SP) também marcou presença na festa no último sábado. “O Barão de Itararé é uma legenda importantíssima da luta pela democracia no acesso à informação, uma reforma estrutural para o país garantir informação de qualidade. Ele sempre trouxe a polêmica sobre a política pública, o financiamento do jornalismo alternativo, o pluralismo que é tão importante. Estou muito feliz em participar deste momento que é parte da história dessa instituição da luta democrática brasileira”.
Orlando também comentou os desafios atuais. “Enfrentar as big techs não é uma tarefa só do Brasil, mas uma tarefa da democracia. Um punhado de empresas da Califórnia não pode dominar a esfera pública brasileira que precisa de pluralismo e debate livre. Isso não acontece hoje, porque as mediações algorítimicas restringem o fluxo dos debates. O Barão está nesta agenda para garantir a regulação das plataformas digitais e para enfrentar os monopólios nacionais, o outro lado da mesma moeda”.
Ao Canal Resistentes, Orlando destaca que, nestes 15 anos, a entidade conseguiu “colocar todo mundo na mesma mesa para conviver, mesmo tendo divergências. Segundo, fez uma espécie de letramento digital para a política brasileira e para a esquerda, abrindo o caminho para o entendimento das novas mídias como um espaço qualificado para o debate público. E, terceiro, o Barão nunca fez uma luta especializada restrita a justa necessidade de democratização do acesso à informação. Sempre ligou a luta pela democracia na comunicação à luta política geral”.
“Juntar o específico e o geral é essencial para que possamos ter mudanças de fundo. Celebrar 15 anos de Barão é celebrar 15 anos de luta e do agrupamento dos que fazem essa luta. Se todo mundo fosse preto, eu diria que o Barão é um quilombo, porque aqui, de outra maneira, nós nos aquilombamos para lutar pelo objetivo de fortalecer a nossa democracia”, salienta.
Para os próximos 15…
Érika Ceconi (Barão de Itararé), jornalista da entidade, aponta o orgulho que sente em trabalhar em “uma entidade que luta pela democratização da comunicação e consegue reunir a mídia alternativa, o que não é fácil. São quinze anos resistindo, inclusive às dificuldades de financiamento de uma entidade progressista e de esquerda. O legado do Barão é muito importante e conquistou uma grande credibilidade neste período de luta e de muitas atividades, palestras, cursos, encontros com a mídia alternativa. Tem muita coisa acontecendo e a nossa missão é contribuir e avançar este legado”.
Anderson Moraes (Jornal Empoderado) conta que o Jornal Empoderado nasceu em 26 de agosto de 2016 na sede do Barão, fortalecendo a ideia da comunicação popular dentro da entidade. “Nós discutimos nesse período a democratização da mídia. Estamos falando de um Brasil que tem seis famílias que dominam toda a sua comunicação comercial. Neste meu terceiro mandato como diretor do Barão Itararé, nós continuamos essa luta, mas tem outra, para os próximos 15 anos, que é a desconstrução da ideia de que as redes sociais é terra de ninguém”.
“Isso é uma mentira. Não pode o racismo, a homofobia, a falta de direitos humanos fazer parte das redes sociais. É preciso que exista a responsabilização de quem pratica esses crimes e das big techs que os permite. Imagina, eu sou convidado para a sua casa e um convidado seu me destrata, é a mesma coisa. Além disso, temos a desinformação corroborada pelos governos de extrema direita, desde Temer, Bolsonaro, Tarcísio, Ricardo Nunes, Zema e por aí vaí… E não nos esqueçamos do PSDB, que pode estar morrendo, mas contribuiu com todos os problemas que estamos vivendo hoje”, destaca.
“Nós temos que contribuir para a democratização da comunicação, a luta contra a desinformação e agora inteligência artificial, que é extremamente séria, e precisa de alguma forma de tipificação, mais rápida, para quem se sentir lesado. E temos a luta por política públicas para as mídias pretas, periféricas, indígenas e quilombolas. Esse é também um papel do Barão de Itararé para os próximos 15 anos”, complementa.
Ergon Cugler, autor de IA-Cracia: como enfrentar a ditadura das big techs (Kotter, 2024) e membro da diretoria do Barão, lembra que a entidade é muito importante não só para a democratização da comunicação, mas para a luta pela democracia no país. “No fim das contas, o que o Barão está fazendo é ajudar a organizar a mídia alternativa para cobrar mais transparência, mais participação da sociedade civil, mais direitos sociais. A grande mídia tem seus interesses, a mídia alternativa tem autonomia. Por isso, o Barão de Itararé é imprescindível ao organizar essa turma para batalharmos juntos e não ficarmos isolados”.
Por isso também, acrescenta, “é importante brigar pela regulamentação da mídia alternativa para que ela tenha direitos e financiamento para criar algo que não dependa apenas de apoios pontuais. Somente com financiamento contínuo, estrutural, a mídia alternativa poderá sobrevier independente dos governos”.
Cugler também destaca as batalhas atuais do Barão, “na esteira do legado construído por pessoas como a Renata Mielli, como as mobilizações em torno de três projetos de lei: o PL 2630 das fakes news, o PL 2338 da inteligência artificial e o mais recente, o PL 2628, sobre o direito das crianças e adolescentes no ambiente digital. São batalhas que mostram que o Barão está mais conectado do que nunca com a pauta da tecnologia, da inteligência artificial e do combate às fake news”.
Felipe Bianchi (Barão de Itararé) destaca que o Barão sempre teve o objetivo de organizar e mobilizar pela luta pela democratização da comunicação numa visão mais ampla. “Seu grande legado é construir a unidade num campo que é diverso. É uma construção coletiva para agregar todos os setores da sociedade, o movimento sindical, organizações da sociedade civil, a academia para a importância estratégica que é a luta pela democratização da comunicação e convencer a sociedade que comunicação é prioridade”.
“Nós vimos o estrago nos últimos anos, uma verdadeira regressão civilizatória, em boa parte possibilitada pela concentração da comunicação nas mãos de poucas famílias. Agora, além disso, temos uma indústria de desinformação turbinada por algoritmos secretos de big techs com interesses não só econômicos, mas políticos bem definidos. Estamos completando 15 anos com desafios dobrados, por isso, manter essa rede e ampliá-la é o nosso trunfo”, aponta.
Bianchi também aponta que muito jovens estão chegando ao Barão com novas demandas. “A gente precisa absorver essas ideias, como o projeto Territórios Mídias Brasil, com a construção de comunidades digitais e assimilando novas linguagens e formas de comunicar. O Barão é um espaço para discussão, reflexão crítica e participação em rede e a juventude é mais do que necessária nesse processo. Além disso, o Barão permite quem está chegando agora ter contato com a experiência e o acúmulo dos que empreenderam a luta até aqui, trazendo energia nova, vontade de fazer e domínio de novas tecnologias”.
“A comunicação é a grande prioridade, gargalo para empreendermos todas as outras lutas. Quem vai dar espaço e trazer outras fontes, por exemplo, na cobertura da reforma agrária? Esse é o papel do jornalismo contra-hegemônico e nossa ação é disputar essa hegemonia, com estrutura, financiamento e condições materiais adequadas. Não estamos falando de nenhum processo radical e revolucionário, mas de um desenvolvimento saudável da nossa própria democracia, como previsto na Constituição de 1988”, complementa.
Para Danielle Penha (Barão de Itararé), da coordenação da entidade, não parece que já se passaram 15 anos. “Eu não imaginava que ficaria tanto tempo nessa jornada, no entanto, o trabalho coletivo, o empenho, a dedicação e o esforço de quem ajudou a formar o Barão me fez acreditar e querer ficar. Já na primeira atividade, nós reunimos quase 200 pessoas. Ao longo dos anos, foram inúmeras iniciativas, de debates a cursos de formação, entrevistas e encontros internacionais, a cada atividade era um novo desafio. Quando tudo terminava, muitas vezes, eu nem acreditava que tinha acontecido e tinha sido um sucesso”.
“Cada projeto, cada evento foi uma oportunidade única de aprendizado e crescimento, tanto pessoal quanto profissional”, afirma, ao recordar como uma experiência marcante a coordenação do Encontro Mundial de Blogueiros, em Foz do Iguaçu em 2011, “foi único”. “Claro que nem sempre tudo são flores, tivemos muitos percalços ao longo desses 15 anos, enfrentamos dificuldades financeiras, ficamos sem sede em plena pandemia, mas cada obstáculo superado fortalecia mais ainda a equipe. Aprendi que a resiliência é fundamental para seguir em frente”, aponta.
“Sinto uma profunda gratidão por tudo o que vivi e aprendi, por compartilhar os primeiros 15 anos do Barão com tanta gente boa e comprometida. O Barão de Itararé não é apenas um trabalho é uma parte de mim. Espero continuar contribuindo para o seu crescimento e fortalecimento por muitos anos”, complementa.
Samba, Slam e cartuns
Neste ano, a Festa do Barão contou com o samba dos Inimigos do Batente, os versos do Slam Palmares e uma mostra de cartuns em homenagem ao Barão de Itararé, uma parceria da entidade com a Revista Pirralha. Guto Camargo, que reuniu o grupo de chargistas da exposição, conta que são “30 obras de 21 artistas”, entre elas, ele destaca uma obra do Henfil, enviada pelo filho do cartunista especialmente para a comemoração do Barão, e outra de Diogo Novaes, feita especialmente para a fundação da entidade, 15 anos atrás.
Este texto termina com plena consciência de que os depoimentos que aqui estão representam uma pequena (e potente) mostra das centenas e centenas de vozes que encontram no Barão um porto seguro e um espaço de formação humana e política, em meio às turbulências de um Brasil que ainda luta por uma comunicação de fato, sem a qual, o nosso sonho democrático jamais sairá do papel.
Que tod@s se sintam representados.
Vida longa ao Barão!