Por Felipe Bianchi
Quando você não se comunica, o vazio que você deixa é preenchido por outros atores. A opinião é de Miguel do Rosário, autor do blog O Cafezinho. Além de Miguel, os jornalistas Hildegard Angel e Fernando Brito estiveram em Maricá/RJ, no sábado (28), para falar da importância da comunicação nos governos progressistas.
“Não é raro encontrarmos canais de YouTube de administrações públicas bem produzidos, mas com três, quatro, cinco visualizações. Qual a razão disso, afinal? Por que essa falta de conhecimento e habilidade para lidar com esses conteúdos?”, questiona Miguel do Rosário. A comunicação nos governos não é tão complicada assim. Você precisa aparecer, estar presente, dialogar e interagir com o público. É o caso de Flávio Dino, governador do Maranhão, exemplifica o blogueiro. “Sem produções caras, Dino mostra diariamente o que está fazendo, de forma didática”.
Essa ausência midiática, na avaliação de Miguel do Rosário, foi um dos principais erros de Dilma Rousseff. Alvo de ataques diários por parte da grande mídia, Dilma deveria ter feito respondido e feito seu contraponto também numa base diária. “Os ataques ficam e se acumulam. Você não pode esperar a poeira baixar, pois ela vai se acumulando e contaminando a opinião pública”, alerta o jornalista.
“Nessa falta de estratégia comunicacional, o governo de Dilma Rousseff foi desossado, ficando sem vértebras, sem esqueleto, até que caiu. O governo precisa falar, responder, se posicionar, escutar”. A referência escolhida pelo blogueiro é Hugo Chávez, na Venezuela, que promovia com frequência diálogos públicos com presenças de líderes de governo e populares, além de ter fomentado meios comunitários, populares e públicos.
Colunista do Jornal do Brasil, Hildegard Angel lamenta que a necessidade de se fazer comunicação ainda seja tratado como desafio para as administrações públicas de esquerda. “Nos governos progressistas, não deveria haver desafios de comunicação. Ora, são progressistas”, diz. “Mas o que vimos com Lula e Dilma foi uma grande distância dos meios alternativos, dos setores democráticos e populares, da radiodifusão comunitária”, complementa, opinando que esta lógica tem sido hegemônica no setor.
Os governos democráticos e populares se abstiveram em relação à guerra vigente na mídia e nas redes, critica Angel. Desde a diputa contra Serra, em 2010, Dilma ganhou pechas das quais nunca se livrou. “No Brasil, se prática a opinião única. A d’O Globo. Em todos os veículos é a repetição das mesmas opiniões, empobrecendo o espírito crítico”.
“Sabemos que o que sustenta a grande mídia é a publicidade oficial. Faltou decisão política de distribuir esses recursos com outros atores da mídia, principalmente os que estavam ao lado do projeto democrático e popular”, diz a jornalista. Agora, com a passagem do bonde da história, Hildegard Angel alerta: “Tenho a forte sensação de que esses são os últimos momentos da liberdade de expressão no país e, muito em breve, assistiremos novamente a um filme triste, que já esteve em cartaz por mais de 20 anos no Brasil”.
Detentor de um currículo e experiência notáveis no que diz respeito ao tema do seminário, o jornalista Fernando Brito opina que não pode existir movimento progressista sem que haja uma imprensa progressista. Brito foi assessor de Leonel Brizola, no Rio de Janeiro, e acompanhou de perto o que pensava o líder popular sobre o assunto. “Eu dizia a Brizola que talvez ele precisasse parar com os tais ‘tijolaços’, que ele escrevia. Ele respondia: ‘Temos de dar munição para o nosso pessoal conversar na rua, no ônibus, no botequim. Não são só os intelectuais e comentaristas que podem falar sobre esses temas’”.
Segundo ele, esse enfrentamento é fundamental. “Comunicação no governo progressista é algo que permite que a população perceba a identidade desse governo, as propostas e o projeto desse governo”, diz. “Um governo progressista, seja numa metrópole, numa cidade de médio ou até pequeno porte, tem de ter suas marcas. Tem de transmitir o que é seu projeto e como este governo pensa”.
Conforme argumenta Brito, a comunicação no governo progressista não deve se limitar a falar que “secretário tal esteve em lugar tal dia tal para falar de tal assunto”. O governo progressista precisa de símbolos, assevera. “Por isso que a direita tem horror a esses símbolos criados por Lula e Brizola, por exemplo”.
“Não interessa o que pensamos da igreja, mas quando falamos que algo ‘fica ali atrás da igreja’, ou ‘fica ali na frente da igreja’, é porque olhamos aquele prédio e identificamos a igreja como referência. Os governos progressistas precisam criar referências que o povo assimile”, explica. “Pra mim, comunicação é a capacidade de nos darmos, perante à população, identidade. Identidade como clareza de propostas, de propósitos, de ideias e, tanto quanto possível, informação”.