Desde a eleição de 1989, a primeira para Presidente da República após 21 anos de ditadura, o processo eleitoral no Brasil é marcado pelos debates entre os candidatos a prefeito, governador e presidente, com particular interesse no segundo turno, quando a participação de apenas dois postulantes ao cargo torna o debate mais propositivo. Isso até 2018. Agora, a eleição para presidente ficará marcada pela recusa do candidato Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas de intenção de voto, em participar dedebates contra seu adversário.
Fonte: Rede Brasil Atual
Para Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e professor aposentado da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), a imprensa tradicional, como o jornal Folha de S.Paulo e a Rede Globo, tem tido comportamento ambíguo após não terem visto seu candidato preferencial (Geraldo Alckmin) ter sucesso no primeiro turno.
“Eles plantaram o que estão colhendo e agora ficam indo de um lado para o outro. A Globo faz uma crítica ao Bolsonaro, mas agora não permite que o Haddad participe do debate, sobre o qual ele não tem culpa do adversário não querer participar”, analisou Lalo Leal, em entrevista ao jornalista Rafael Garcia na Rádio Brasil Atual.
Para ele, se a TV Globo, palco tradicional do último debate antes de cada turno da eleição, tivesse preocupação com o bem da informação ao cidadão, faria o debate só com o candidato Fernando Haddad (PT).
“A Globo fica do lado do Bolsonaro e não prejudica só o Haddad, prejudica o eleitor que vai às urnas sem as informações que poderiam ser dadas na sexta-feira (26), antes do voto. É mais um desserviço da Globo para o processo democrático”, afirmou o professor.
O mau exemplo dos debates cancelados pelos canais de televisão diante da recusa de Jair Bolsonaro (PSL) em participar da sabatina, mostra para Lalo Leal um caso prático da importância da regulamentação dos meios de comunicação, um tema ainda mal compreendido pela sociedade brasileira.
“O que se pede, simplesmente, é a regulamentação do capítulo da comunicação social que está na Constituição de 88 e que até hoje não foi regulamentado”, explica, citando como exemplo a questão dos monopólios dos meios de comunicação. “A regulamentação não é tirar a Rede Globo do ar ou censurar a Folha de S.Paulo, a regulamentação é abrir espaço e possibilidade para que outros veículos de comunicação tenham também acesso ao público, para que a gente não tenha, como temos hoje, praticamente um pensamento único.”
O professor aposentado da USP pondera que a mídia tradicional, para se proteger e confundir a sociedade, costuma relacionar o termo ‘censura’ a proposta de regulamentação.
“Eles usam a palavra ‘censura’ porque isso pega fácil na população. Censura é uma palavra que as pessoas entendem, ‘regulamentação da comunicação’ é um pouco mais difícil”, afirma, destacando que o tema já é ultrapassado nos Estados Unidos e na Europa desde a década de 1930, onde vigoram leis que estabelecem regras para o mercado dos meios de comunicação.