O jornalista e escritor Cesar Calejon tem dedicado seus últimos anos de trabalho a pesquisar a ascensão do bolsonarismo no Brasil. Ele tem lançado luz sobre um debate primordial para a campanha eleitoral de 2022: como as forças democráticas podem driblar o domínio do “gabinete do ódio” de Jair Bolsonaro nas redes sociais?
Longe de entregar as respostas definitivas para todas as questões, o que Calejon propõe passa, primeiro, por reconhecer as deficiências na comunicação das esquerdas na internet.
O bolsonarismo não inventou a roda na web. Fabricar peças de fácil assimilação, com potencial viral, segmentando o público e personalizando as mensagens de acordo com cada nicho, mexendo com medo e sentimentos da população – tudo isso foi importado da extrema-direita mundial e está em vigor por aqui há muitos anos. Da eleição de Donald Trump, passando pelo Brexit, à eleição brasileira de 2018.
É preciso conhecer e acompanhar a evolução dos métodos e ferramentas de guerra dos inimigos, para derrotá-los. Se preciso for, os partidos tradicionais precisam deixar os imigrantes digitais um pouco de lado e recrutar, como sugeriu Calejon, os nativos digitais capacitados para lidar com a internet com mais propriedade.
Não é sobre abandonar o necessário debate sobre as grandes questões nacionais, mas sim adaptá-lo à linguagem que as redes exigem.
O segundo ponto para discussão é: não dá mais para disputar a narrativa bolsonarista na web. É preciso pautar em vez de ser pautado. Trazer o adversário para jogar dentro do nosso campo.
Para Calejon, toda vez que um bolsonarista quiser debater uma agenda meramente ideológica ou de costumes, por exemplo, a resposta que melhor cabe é revidar com a “materialidade histórica”, ou seja, colocar em xeque o bem estar econômico e social das famílias brasileiras, à luz do legado dos governos progressistas.
É debater o preço do gás de cozinha, da carne, dos combustíveis: problemas que atravessam 95% da população brasileira, que ganham menos de cinco salários mínimos.
“O bolsonarismo tem uma capilaridade nas redes sociais que até hoje a esquerda não conseguiu entender e alcançar. (…) A esquerda gasta muita energia, e de forma pouco coesa, disputando narrativas da direita, quando poderia avançar na materialidade histórica. Nenhum outro partido tem isso no Brasil”, comenta Calejon.
Sem que a esquerda mude seus métodos e estratégias, passando a dominar com propriedade a comunicação nas redes, a eleição em 2022 tenderá a repetir os erros de 2018.