11 de dezembro de 2024

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Nestor Busso rebate Macri sobre liberdade de expressão: ‘Há um terrível retrocesso na Argentina’

As bravatas do presidente argentino Mauricio Macri sobre liberdade de expressão foram alvos de duras críticas por pate do movimento argentino pela democratização da comunicação. Diretor de políticas públicas da FARCO – Fórum Argentino de Rádios Comunitárias, Nestor Busso detonou a hipocrisia de Macri, que se gabou, em seu Twitter, de a Argentina viver seu melhor período da história em relação à liberdade de expressão. As declarações de Busso foram feitas durante a Assembleia Anual de Rádios Comunitárias, realizadas entre 31 de março e 2 de abril, em Cordoba.

Por Felipe Bianchi, com informaçõs do Fórum de Comunicação para a Integração de Nossa América

Macri utiliza informes da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), entidade patronal que reúne os barões da mídia nas Américas, para defender o suposto título dado a seu país. “Espanta a mentira e a cara de pau de Macri ao dizer que há plena liberdade de expressão na Argentina. Ele fala em liberdade de expressão, mas na verdade há um terrível e feroz retrocesso neste tema durante seu governo”, argumenta Busso.

 

Em uma série de tuítes, Macri afirmou que nunca se gastou tão pouco com verbas publicitárias e insinuou que os governos progressistas “aparelhavam” os meios. A resposta de Busso foi tachativa: “O cenário hoje é desesperador. São 3500 jornalistas demitidos neste período. Além disso, meios de comunicação em todo o país definham com graves dificuldades de sobrevivência, pois o governo Macri fortalece a concentração dos meios de comunicação no país”, assinala. “O governo vem outorgando cifras fabulosas em publicidade oficial a um grupo restrito de veículos e, ao mesmo tempo, cortou todo tipo de ajuda do Estado a meios populares e locais – não apenas meios comunitários, mas diversos veículos pequenos ao longo de todo o território argentino”.

Assim como Jair Bolsonaro faz com a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), projeto germinal da comunicação pública no Brasil, Busso denuncia o desmonte do setor, na Argentina, por Macri. “Há em curso um processo de destruição da comunicação pública. Uma das jogadas do governo é a contratação de jornalistas simpáticos a quem está no poder para conduzir a televisão pública, que está em plena decadência”, diz, rebatendo as acusações feitas pelo presidente, no Twitter, de que o governo anterior teria “aparelhado” os meios.

Vale lembrar que, em 2011, com massiva adesão popular e manifestações de rua, a Argentina aprovou a Lei de Serviço de Comunicação Audiovisual, a chamada Ley de Medios, sob o governo de Cristina Kirchner. A legislação, que desmontava o monopólio do grupo Clarín, foi prontamente atacada tão logo Macri assumiu o poder. Não por acaso é considerada referência no debate acerca da regulação e democratização da comunicação no continente.

 

 Mais de 160 comunicadores e comunicadoras se reuniram na Assembleia Anual de Rádios Comunitárias, em Cordoba. Foto: Reprodução

Ao não direcionar verbas para a sustentação dos pequenos veículos, “Macri descumpre a lei, que garante o Fundo de Fomento para Meios Comunitários e Indígenas. Nos devem mil milhões de pesos, pois este é um direito conquistado”, denuncia o diretor da FARCO. “Quando há concentração, quando poucos têm o direito de informar, não há democracia e nem liberdade de imprensa. Na Argentina, o que estamos vivendo é um terrível retrocesso em matéria de direito à comunicação”.

Vale lembrar que, em 2011, massiva adesão popular, a Argentina aprovou a Lei de Serviço de Comunicação Audiovisual, a chamada Ley de Medios, sob o governo de Cristina Kirchner. A legislação, prontamente atacada tão logo Macri assumiu o poder, é considerada referência no debate acerca da regulação e democratização da comunicação no continente.

Questionado sob os horizontes da luta pelo direito à comunicação em cenários nefastos como o que vivemos, Busso evoca um ditado popular: “Como dizia minha avó, a mentira tem pernas curtas”. Logo, “é preciso organizar a luta pelo direito à comunicação mais que nunca. Este debate não pode esfriar. A grande conquista da chamada Ley de Medios foi colocar esse tema em debate e, principalmente, de a população passar a compreender a comunicação como direito. Temos de seguir resistindo e lutando ao lado do movimento pela democratização da comunicação de outros países do continente”.

Escute a íntegra da fala de Nestor Busso na Assembleia Anual de Rádios Comunitárias